Mosquito da dengue e outras espécies invasoras causam prejuízo anual de até R$ 15 bilhões no Brasil. Estimativa ainda pode estar subestimada devido a lacunas em estudos sobre o tema, avaliam autores de relatório.


As espécies exóticas invasoras no Brasil, como os mosquitos do gênero Aedes, transmissores de vírus causadores da dengue, febre amarela, chikungunya e zika, causam um prejuízo anual de até R$ 15 bilhões para o país, conforme reportagem de Elton Alisson da Agência Fapesp. “Ações de controle podem causar comoção e extensas discussões, como o controle da jaqueira (Artocarpus heterophyllus) que invade
a Mata Atlântica.”

A estimativa foi feita por um grupo de pesquisadores autores do “Relatório Temático sobre Espécies Exóticas Invasoras, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos”, lançado no dia 1º de março pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, na sigla em inglês), entidade criada em 2015 com apoio do Programa BIOTA-FAPESP.

Invasores podem ser plantas, animais e microrganismos

De acordo com dados do estudo, são registradas no Brasil 476 espécies exóticas invasoras – como são chamados plantas, animais e microrganismos que são introduzidos por ação humana, de forma intencional ou acidental, em locais fora de seu habitat natural. Esses organismos se reproduzem, proliferam e se dispersam para novas áreas onde, na maioria das vezes, ameaçam as espécies nativas e afetam o equilíbrio dos ecossistemas.

“Elas representam uma das cinco maiores causas de perda de biodiversidade em escala global”, diz Michele de Sá Dechoum, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e uma das coordenadoras do relatório. As outras quatro são destruição de habitat, mudanças climáticas, poluição e sobre-exploração de recursos naturais.

Mosquito da dengue

Segundo o levantamento, das 476 espécies exóticas invasoras registradas no Brasil, 268 são animais e 208 plantas e algas, em sua maioria nativas da África, da Europa e do Sudeste Asiático.

O mosquito Aedes aegypti, por exemplo, é originário do Egito, na África, e vem se espalhando pelas regiões tropicais e subtropicais do planeta desde o século 16, período das Grandes Navegações. O inseto chegou ao Brasil no período colonial.

Essas espécies intrusas estão presentes em todos os ecossistemas, com maior concentração em ambientes degradados ou com alta circulação de pessoas, e em todas as regiões do Brasil.

As áreas urbanas são vulneráveis a espécies exóticas invasoras devido ao grande tráfego de pessoas, commodities e mercadorias via portos e aeroportos, avaliam os autores.

Outras espécies

“A maioria das espécies invasoras causadoras de impactos negativos no Brasil foi introduzida intencionalmente, como a tilápia, o tucunaré, o javali e o caracol gigante”, afirmou Mário Luis Orsi, professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e também coordenador do estudo.

Ao longo de 35 anos – 1984 a 2019 – o prejuízo mínimo estimado em razão dos impactos ocasionados por apenas 16 espécies exóticas invasoras variou de US$ 77 bilhões a US$ 105 bilhões – uma média anual de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões. Dentre essas espécies estão principalmente pragas agrícolas e silviculturais – responsáveis por um prejuízo acumulado no período de US$ 28 bilhões – e vetores de doenças, como o Aedes aegypti – causadores de perdas de US$ 11 bilhões no mesmo período.

As estimativas foram feitas com base em um levantamento dos prejuízos em termos de perdas de receitas e custos de manejo direcionados para ações de prevenção, controle e mitigação de impactos negativos de espécies exóticas invasoras reportados por órgãos do governo e empresas públicas e privadas.


Fonte: Agência Fapesp


Destaque – Imagem: aloart


Publicação:
Sábado | 9 de março, 2024