Sábado, 28 de maio de 2016 às 19h34


O mosquito da dengue já não é uma ameaça para os 400 mil turistas esperados e aos Jogos Olímpicos, apontam os estudos epidemiológicos da equipe da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), liderada pelo professor Eduardo Massad (leia a matéria). No entanto, quanto aos vírus encontrados nas águas cariocas onde os atletas disputarão provas aquáticas – mesmo a bordo de barcos e canoas – a preocupação só aumenta com a proximidade da competição.

Gerson Soares

Em artigo publicado no New York Times, divulgado no dia 6 de maio pelo O Estado online, a ex-nadadora Lynne Cox, aponta a Baía de Guanabara e a praia de Copacabana como locais impróprios para as provas aquáticas. Segundo ela, após um “contato incidental”, membros da delegação norte-americana juvenil tiveram casos de vômitos, diarreia e outros sintomas virais após os treinos. “Qualquer atleta que entrar em contato com essas águas tem alta probabilidade de ficar doente”. Nadadores de maratona, velejadores e triatletas irão ingerir essas águas, por isso é possível imaginar a preocupação das equipes, que estarão longe das águas cristalinas da Gruta Azul na Bahia, percorridas pela tocha olímpica que viaja através do Brasil.

 

Águas límpidas da gruta da Pratinha ou Gruta Azul refletem o condutor da tocha olímpica Raimundo Sólon. Essas águas emergem de um rio subterrâneo de mais de 100 quilômetros de extensão. Foto: Rio 2016 / André Luiz Mello

 

De acordo com testes encomendados pela Associated Press (AP) no ano passado, por exemplo, a Lagoa Rodrigo de Freitas, um dos locais de competição considerado com as águas mais poluídas, registrava de 14 milhões a 17,1 bilhões de adenovírus por litro de amostra. Para se ter uma ideia, em praias no sul da Califórnia (EUA), o alerta é acionado quando os testes indicam 1.000 mil por litro. “O que se tem ali é basicamente esgoto puro,” disse John Griffith, biólogo marinho do instituto independente Southern California Coastal Water Research Project, em reportagem da AP divulgada pelo G1 há menos de um ano.

Este é o país dos antagonismos, enquanto é possível suspirar com a beleza de lugares incríveis na Chapada Diamantina que felizmente se mantêm preservados, movimentos ambientalistas como a ONG verao.meurio, divulgam imagens chocantes, feitas nos locais de provas aquáticas dos jogos olímpicos que começam em 69 dias. As coletas para a pesquisa da AP, foram feitas depois que o governo do Rio de Janeiro assegurou que as águas estão apropriadas para as disputas.

 

Imagem divulgada pela organização não governamental verao.meurio, mostra ativista no Rio de Janeiro dando braçadas em meio à poluição, para cobrar das autoridades ações relevantes sobre o saneamento básico na cidade.

 

Se por um lado os estudos indicam que os mosquitos transmissores da dengue, chikungunya e zika – frutos do desleixo e abandono do governo brasileiro – darão uma trégua devido ao inverno; no outro extremo a poluição por coliformes fecais na Baía de Guanabara, Lagoa Rodrigo de Freitas e outras praias cariocas, escancaram ao mundo um país onde a infraestrutura e as políticas de saneamento básico há muito tempo estão distanciadas das necessidades populacionais, nao só do Rio de Janeiro. Enquanto políticos eleitos consideraram-se senhores feudais ou donos de tudo o que puderem colocar sob seus poderes e mentes deturpadas, dificilmente será possível singrar sobre um mar de águas límpidas, livres dos adenovírus