Sábado | 2 de novembro, 2019 | 19h35


Da erradicação da doença à resistência à imunização: o que a população que nunca teve contato com o sarampo precisa saber.

O mundo está cada vez mais conectado. Novidades de todos os cantos chegam às nossas telas em questão de segundos. Porém, a facilidade de se locomover entre os países do globo permite também que vírus e outros agentes infecciosos contaminem a população para além das fronteiras.

 

“O Ministério da Saúde está fazendo o seu papel. Mas não adianta o governo fazer a parte dele e as pessoas não se conscientizarem”, advertiu o dr. André Doi, do Einstein. Foto: divulgação / M&S

 

Com o sarampo foi assim. O Brasil, sem nenhum caso registrado de transmissão local desde 2015, entrou em alerta após o surto da doença no país. Hoje, já são contabilizados aproximadamente 9.000 casos e mais de dez mortes.

“Houve uma redução da nossa cobertura vacinal. Na medida em que a população não está imunizada adequadamente, criam-se condições para que o sarampo seja reintroduzido”, explica dr. Fernando Kok, professor de Neurologia Infantil do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina de Universidade de São Paulo (FMUSP). “A transmissão do vírus se dá pelo contato interpessoal, por meio da tosse, da respiração ou da fala, sendo que o contágio já pode ocorrer alguns dias antes do aparecimento dos sintomas. Ou seja, uma pessoa pode contaminar mais outras dez não-imunes sem perceber”, continua Kok. As chances de infecção aumentam em pessoas não vacinadas ou imunizadas de forma incompleta, sem receber reforço.

Com a eclosão da epidemia, passou a se recomendar vacina a todas as crianças a partir dos seis meses de idade, além de um reforço com um ano. O dr. André Doi, assessor médico do Laboratório Clínico do Hospital do Israelita Albert Einsten, alerta: “Não importa se é criança, adulto ou idoso. A chance de pegar o sarampo é muito grande. Basta não estar imune e ter contato próximo com alguém que está infectado”.

O problema torna-se ainda mais grave quando a população é bombardeada por mitos envolvendo a prevenção dessa doença. A vacinação é a única forma de evitá-la. Dr. Kok é enfático: “A vacina é segura, eficaz e não causa doenças. O que pode causar complicações graves é o sarampo, não a vacina”.

Nos últimos anos, o movimento conhecido como “antivacina” ganhou popularidade no Brasil e no mundo. Com a justificativa de que a prática causaria autismo e outras doenças, seus defensores incentivam milhares de pessoas a não comparecerem aos postos de saúde. Dessa forma, doenças erradicadas ou com baixa incidência voltam à tona, fazendo ainda mais vítimas. As mídias sociais tem um papel muito grande na disseminação de informações falsas e alarmistas, e é obrigação dos profissionais de saúde combatê-las.

“O Ministério da Saúde está fazendo o seu papel. Mas não adianta o governo fazer a parte dele e as pessoas não se conscientizarem”, afirma dr. André. O patologista acredita que a função dos médicos é atender, suspeitar e diagnosticar os casos precocemente para impedir ainda mais vítimas.

A campanha nacional de vacinação contra o sarampo vai até o final de novembro. Os grupos de criança entre seis meses e cinco anos e de jovens adultos entre 20 e 29 anos foram priorizados por abrangerem aqueles que nunca tiveram contato com a doença e não receberam um reforço da vacina.

Leia mais sobre
MEDICINA&SAÚDE

Leia as últimas publicações