Os armênios pagaram caro pela sua opção cristã em meio ao fanatismo religioso e a intolerância entre os povos. Disseminando-se pelo mundo os armênios contribuem para o engrandecimento das nações estrangeiras, como bem descreveu o presidente americano Jimmy Carter em 1979, numa recepção especial na Casa Branca: “Nenhum imigrante ou unidade nacional apresenta um quadro de sofrimentos maiores do que o dos armênios, seja na antigüidade, seja nos nossos dias. Hoje, porém não quero falar desses sofrimentos, mas deixar estabelecido que… Não conheci nenhum país que proporcionalmente tenha dado tanto para o desenvolvimento das artes, da música, do teatro, comércio, política e educação quanto os armênios”.


Leia agora a entrevista com o Padre Yeznig Guzelian da Igreja Apostólica Armênia de São Paulo, concedida em 2005, à revista Alô Tatuapé.


Revista Alô Tatuapé – Explique como começou a igreja cristã na Armênia?
Padre Yeznig Guzelian – Dois dos 12 Apóstolos, São Judas Tadeu e São Bartolomeu, foram pregar o Evangelho na Armênia por volta do ano 50 d.C. e lá foram martirizados. Por isso o nome é Igreja Apostólica Armênia. Até 301 d.C. já existia cristãos na Armênia que pregavam a religião, que era proibida.

Revista Alô Tatuapé – Por que está citando essa data?
Padre Yeznig – Na data de 301 d.C. São Gregório (o Iluminador) juntamente com o Rei Drtad III declararam o Cristianismo como religião oficial do Estado armênio.Revista Alô Tatuapé – Quanto tempo o senhor morou em Jerusalém?
Padre Yeznig – Durante 5 anos.

Revista Alô Tatuapé – O senhor possui uma tatuagem no braço direito, simbolizando o Espírito Santo. Por que?
Padre Yeznig – Quem faz esta tatuagem significa que visitou o túmulo de Cristo.

Revista Alô Tatuapé – E qual
é a sensação de visitar o Santo
Sepulcro?
Padre Yeznig – Se você entra em Jerusalém, você já sente uma energia diferente, não precisa ir até o túmulo.

Revista Alô Tatuapé – No local, onde Jesus foi sepultado erigiu-se uma igreja não é mesmo?
Padre Yeznig – A igreja do Santo Sepulcro pertence há três religiões: Grega Ortodoxa (foram os construtores em 340 d.C.), Armênia e Católica. Helena, a irmã do imperador Constantino – que depois virou santa – mandou construir o templo no local onde Jesus foi sepultado e depois passou a procurar a cruz utilizada para a crucificação de Jesus.

Revista Alô Tatuapé – E a encontrou?
Padre Yeznig – Encontrou num (procurando palavras em nosso idioma) lixão em Jerusalém, junto com mais duas cruzes. Para provar qual era a de Jesus, colocou-a no chão e passando um cortejo fúnebre Helena o parou e tiraram uma criança falecida. Ele mandou colocá-la em cima de cada cruz, acreditando que na qual a criança ressuscitasse seria a de Jesus.

Revista Alô Tatuapé – E a criança realmente ressuscitou?
Padre Yeznig – Ela ressuscitou e a cruz foi colocada no Calvário. Então, Helena mandou construir a grande igreja, a Basílica hoje chamada de Santo Sepulcro.

Revista Alô Tatuapé – Mas hoje a cruz não está mais lá?
Padre Yesnig – A cruz de Cristo foi achada 300 depois de ter sido usada. Por volta de 600 d.C. a Pérsia atacou Jerusalém e levou a cruz. Cristãos de toda a Europa, inclusive os armênios, cujo país fazia fronteira com a Pérsia, ajuntaram-se para atacá-la e recuperar a cruz. E recuperaram. Na volta ficou um ano na Armênia. Por causa do rigoroso inverno eles não podiam chegar até Jerusalém.

Revista Alô Tatuapé – E o que aconteceu depois?
Padre Yeznig – A cruz voltou para Jerusalém, passando por Constantinopla terra de Santa Helena, e para não haver mais disputas, a cruz foi dividida entre as igrejas.

Revista Alô Tatuapé – E sobre São Gregório, padroeira da Igreja Armênia?
Padre Yesnig – Ele foi um cristão e alto funcionário do Estado, enquanto o Rei Drtad III era pagão, sua história é bastante interessante.

Revista Alô Tatuapé – Então conte.
Padre Yesnig – Gregório era cristão e isso era considerado crime. O Rei Drtad III mandou prendê-lo e ainda descobriu que os antepassados de Gregório foram inimigos dos seus pais. Com isso mandou encerrar Gregório num poço, hoje chamado de Khor-Virab, que traduzindo fica “poço profundo”.
Passados alguns anos, o rei apaixonou-se pelas mulheres judias de uma caravana e quis se casar com elas, que o recusaram. Em represália mandou matar 40 mulheres.
Depois disso Drtad ficou enlouquecido, por que ele havia gostado daquelas mulheres. Passado algum tempo a irmã do rei sonhava sempre que o único que poderia libertá-lo da loucura seria Gregório.
Mas, para o rei Gregório já estava morto, pois havia 13 anos que tinha sido jogado no poço. Mesmo assim mandou olhar e constatou que o homem estava vivo. Ele fôra ajudado por uma cristã que jogava água e comida para ele.
Gregório foi libertado e o rei curado, que em reconhecimento converteu-se ao cristianismo. Com isso a Armênia foi o primeiro país a tornar-se cristão oficialmente em 301 d.C. Roma só o faria 12 anos depois.

Revista Alô Tatuapé – Quando o papa visitou a Armênia?
Padre Yeznig – João Paulo II visitou a Armênia em 2001 para comemorar 1.700 de cristianismo.

Revista Alô Tatuapé – Estando inserido numa região onde a religião imperante é a muçulmana, contemporaneamente o país pagou um alto preço por isso.
Padre Yeznig – Em 1915 a Armênia e seu povo foram vítimas do primeiro grande massacre do mundo moderno, um genocídio cometido pelos turcos que mataram um milhão e meio de pessoas.

Revista Alô Tatuapé – A Armênia está no sopé do Monte Ararat. Qual a verdade sobre Noé?
Padre Yesnig – Ali teria sido o local onde Noé ancorou sua arca. Existem indícios arqueológicos.

Revista Alô Tatuapé – Então esta é uma cultura bastante antiga?
Padre Yesnig – A cultura Armênia tem 4.000 anos e ocupava um território que ficava entre a Turquia, Rússia e a
Geórgia, mas que hoje se reduziu ao tamanho do estado de Sergipe, devido as invasões.

Noite da Cultura Armênia que ocorreu no dia 28 de outubro de 2008, dia de São Judas Tadeu um dos apóstolos de Cristo padroeiro da igreja Armênia, o outro é São Bartolomeu. De terno preto o Padre Yeznig Guzelian, Diretor da Escola Externato José Bonifácio e de batina o Padre Boghos Baronian, da qual participaram todos os alunos.

 

Igreja Armênia, antes da reforma, em 2005. Foto: aloimage.

 

Pintura de São Judas que com São Bartolomeu levaram o evangelho aos armênios. Catedral Apostólica Armênia de São Paulo – São Jorge. Foto: aloimage 2005.

 

Pintura de São Bartolomeu na Catedral Apostólica Armênia de São Paulo – São Jorge. Foto: aloimage 2005.

 

Após dois anos de reforma a igreja tem sua luminosidade e beleza revigorada. Foto: Catedral Apostólica Armênia de São Paulo – São Jorge – atual.

 

Padre Yesnig na formatura dos alunos no final de 2013.