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Nicola e Elizabeth

Nicola Antonio De Chiro Camardo viveu a maior parte dos seus 90 anos de vida em torno do Largo Nossa Senhora do Bom Parto. De sua morada – uma bela residência de estilo muito parecido com as mansões da recém-formada Avenida Paulista – viu o progresso bater à sua porta e sua família o acompanhou, tornando-se uma das mais tradicionais do bairro.

Em Maio de 1998, fomos entrevistá-lo ao lado de velhos amigos e da sua querida esposa Elizabeth Adua Camardo, 79, e com sua voz grave nos contou muitas histórias, que se alongaram por muitos anos de amizade. “Quando eu tinha uns 17 anos, costumava ir aos bailes e minha mãe deixava a porta aberta para não fazer barulho quando chegasse em casa, para não acordar os outros”, divertiu-se ele, lembrando com saudades dos tempos pacatos do bairro quando todos se conheciam e saíam às ruas, mesmo a noite, sem se preocuparem com os ladrões ou com a violência.

 

 

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No centro da foto, com o uniforme do campo do Clube Azevedo Soares. Observe a torre da antiga igreja no Largo Nossa Senhora do Bom Parto.

 

Mas nem sempre o Tatuapé viveu dias pacatos. Filho caçula de Antonio Camardo, imigrante italiano que chegou ao Brasil por volta de 1896, junto com a esposa Vitória De Chiro Camardo, Nicola lembra dos dias tormentosos durante a Revolução Paulista de 1924. “Meu falecido pai tinha uma propriedade em frente a praça (atual Largo Nossa Senhora do Bom Parto); uma quadra, com plantação de uvas, que ele gostava muito. Meu pai fez uma trincheira para nos proteger contra os soldados e chegamos a ficar dois ou três dias lá dentro, não me recordo exatamente. Depois fomos para o Carrão e quando voltamos tinham acabado com toda a nossa propriedade”.
A lembrança dos vinhedos, das vacarias e da religiosidade permeavam a mente daqueles senhores. Nicola lembrava também de figuras ilustres que se tornaram nome de ruas do Tatuapé, como “o Dr. Azevedo Soares, o velho Marengo, que vinha buscar pão italiano que minha mãe fazia, meu próprio pai que possuía inúmeras propriedades no bairro. Ele dizia para nós: Nunca venda, compre sempre”, disse orgulhoso naquele dia memóravel, aos 84 anos de idade.

nicola e amigos

Com seus amigos Toninho Passarinheiro e Jarbas (à direita); no centro sua esposa Elizabeth.