Domingo | 5 de fevereiro, 2023

Na véspera do Natal e do Ano Novo o som podia ser ouvido a pelo menos 1 quarteirão de distância. Como se livrar da poluição sonora que atinge o Tatuapé ainda é um desafio para os moradores.


O PSIU não atende, a Subprefeitura Mooca não resolve, a Polícia Militar fica de mãos atadas ao ser acionada através do 190. Afinal, a quem o cidadão deve se dirigir para que seus direitos sejam respeitados quando o assunto é poluição sonora? Questões menores que envolvem as contravenções penais, como a perturbação do sossego, parecem tão difíceis de serem resolvidas que os cidadãos desacreditam das leis, criando um clima de tudo pode.

Balada misteriosa

Em 2022, Natal e Ano Novo caíram no domingo e às vésperas desses eventos tão importantes, ou seja, os sábados anteriores foram marcados por um som estrondoso emitido possivelmente na Rua Cantagalo entre as ruas Aralú e Boa Esperança que começou durante a madrugada e só parou por volta das 7h. Essa balada tem seus altos e baixos, tanto na altura do som emitido quanto na frequência com que é realizada, e já acontecia antes das datas citadas.

Replay

Ainda no dia 25 de dezembro do ano passado, após contatos via Whatsapp dos leitores quanto ao som propagado, constatou-se que na 1ª Cia da Polícia Militar – que abrange a área da Rua Cantagalo – não havia nenhum registro de ocorrência. Conversando com a tropa que atua em diversos pontos da cidade, fontes da PM nos informam que os militares não possuem instrumentos legais para multar, por exemplo. “Se eu pudesse multar acabava o barulho no Tatuapé”, disse um militar reformado. O máximo que podem fazer é ordenar que o som seja diminuído. “Ao deixarmos o local os infratores voltam a aumentar o volume”, reportou outra fonte.

Bares e restaurante e a poluição sonora

Os bares e a movimentação provocada por eles no Tatuapé já é bastante conhecida. A atividade começou a provocar reclamações por volta de 2002, quando a expansão desse tipo de negócio teve início no bairro. Desde então abordamos o tema diversas vezes. Em 2016 procuramos as autoridades, mas nada freou o avanço que vemos hoje. Pelo contrário, a Prefeitura autorizou o uso das calçadas pelos bares e restaurantes através do Decreto nº 60.396/2021, durante a gestão de Bruno Covas.

 

Parklets na Rua Padre João Manuel, nos Jardins. Foto: PMSP / Divulgação / @alotatuape arquivo

 

Parklets

Este debate é ainda mais antigo e quem perdeu foram os moradores do Tatuapé e de outros bairros, onde as ruas também foram ocupadas pelos parklets e tudo começou no dia 16 de abril de 2014, quando o atual Ministro da Fazenda, então Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, assinou um decreto regulamentando sua criação na cidade. Inicialmente os parklets seriam temporários e instalados sobre vagas de estacionamento em espaços públicos destinadas aos automóveis, hoje são fixos e contribuem para atrair mais pessoas à frente dos estabelecimentos, aumentando o barulho em zonas residenciais.

Poluição sonora avança

O lazer e o lucro de alguns acarretam os efeitos nocivos da privação do sono a outros. O som alto prejudica, muitas vezes irreversivelmente os ouvidos humanos e quem está mais próximo a ele pode perder a audição. Na madrugada deste sábado (4), a barulheira voltou a acontecer na Rua Cantagalo, no mesmo local citado no início desta reportagem, e só parou por volta das 5h30 da madrugada sem que nada impedisse sua realização. O vídeo abaixo reproduz o som que repercutiu durante as vésperas de Natal e Ano Novo. A poluição sonora avança pelas madrugadas e continua tirando o sossego da população.


Destaque – Imagem: aloart