Esta história pode ser muito antiga e remontar ao Império Romano ou ter uma tradição medieval começando na França no reinado de Luís XIV, durante a perseguição aos protestantes; associadas ao militarismo chegaram ao século XIX e a Guerra da Coreia. No século XX em diante, elas ganharam destaque nas ‘mãos’ de presidentes. O mistério e a popularidade caminham lado a lado.


Um dos conhecidos colecionadores das moedas de desafio ou challenge coins é o atual presidente dos Estados Unidos, Joseph Biden. Mas a tradição entre os presidentes americanos começou com Bill Clinton, o primeiro a ter sua moeda de desafio exclusiva. Barak Obama, também as oferecia da forma mais tradicional, durante os apertos de mãos. A conexão com a honradez e as tradições militares é inegável. Esse comportamento pode ter começado durante o Império Romano e as legiões ‘estacionadas’ ao longo dos seus domínios. Há moedas cunhadas simbolizando cada respectiva legião romana em locais como a Macedonia, Belgrado ou Estrasburgo.

Salvo pela moeda

Contam-se fatos apócrifos sobre como uma challenge coin teria salvo a vida de um soldado. Durante a I Guerra Mundial, um jovem piloto americano, abatido pelas forças alemãs, teve todos os seus pertences confiscados, mas permaneceu com um medalhão envolto em couro que estava pendurado no seu pescoço. Mantido em cativeiro, conseguiu escapar durante um bombardeio e chegar às linhas aliadas, quando foi detido por soldados franceses. Devido às sabotagens através de civis disfarçados, teria sido tomado por sabotador ou espião. Sem identificação e prestes a ser fuzilado, ele mostrou sua moeda com a insígnia do seu esquadrão que ao ser reconhecido salvou sua vida.

Guerras

Outra história sobre essas moedas originou-se durante a Guerra da Coreia. O coronel William “Buffalo Bill” Quinn do 17º Regimento de Infantaria, cunhou moedas de desafio para sua tropa durante os anos 1950-1951, sendo ela uma das mais valiosas até hoje. “Buffalo Bill” era o código usado pela tropa nas conexões pelo rádio. “Esta moeda tinha um búfalo de um lado e a insígnia do Regimento do outro. Um buraco foi feito no topo da moeda para que os soldados pudessem usá-la no pescoço, em vez de guardá-la em uma bolsa,” escreveu Dave Young do Government Training Institute (GTI). Durante a Guerra do Vietnã, as primeiras moedas criadas pelo 10º ou 11º Grupo de Forças Especiais se popularizaram a ponto de outras unidades decidirem cunhar as suas próprias moedas de desafio. “Apesar de as challenge coins poderem ser consideradas por alguns como ‘simples’, as pessoas que as possuíam carregavam-nas com orgulho e até desenvolveram uma forma especial de distribuí-las,” completou Young, salientando a entrega original das moedas através do aperto de mão.

Serviços secretos

O uso de moedas de desafio durante a Segunda Guerra Mundial também envolveu o Escritório de Serviços Estratégicos (OSS), precursor da Agência Central de Inteligência (CIA). “Os membros do OSS frequentemente operavam atrás das linhas inimigas, realizando missões secretas e coletando informações. Para ajudar a identificar seus agentes, eles portavam moedas de desafio com a insígnia do OSS. Estas moedas não serviram apenas como forma de identificação, mas também incutiram um sentimento de unidade e pertença entre os agentes que arriscavam as suas vidas pelo seu país,” contou o Diretor de Comunicação Estratégica e Marketing do Fork Union Military Academy, Dan Thompson. Segundo ele não é possível saber se isto é verdade e diz: “Bem, como se trata de espiões em missões secretas, provavelmente nunca saberemos com certeza”.

Polícia Militar

No final de 2023, a Polícia Militar do Estado de São Paulo homenageou apoiadores e profissionais da imprensa. As moedas desafios de duas unidades que se destacaram no estado e capital paulista estão conectadas às histórias contadas. Para cada pessoa que as tenha recebido – acompanhadas dos respectivos certificados –, foram dedicadas pela corporação como uma honraria especial e entregues pelo Comando de Policiamento de Área Metropolitana Onze, sob o comando do coronel Caio Marcos de Oliveira e o Oitavo Batalhão de Polícia Militar Metropolitano, comandado pela tenente-coronel Adriana Kimie Ogasawara. As challenges coins podem ser vistas nas imagens.

Quem não mostrar paga a bebida

Mas não é só no meio militar que existe esse comportamento. Na França do século XVII, após a revogação do Édito de Nantes pelo rei Luís XIV em 1685, os protestantes franceses Huguenotes começaram a sofrer perseguição e muitos fugiram. Para evitar infiltração de espiões do Estado em seus cultos eles começaram a levar consigo as moedas méreau, símbolo de lealdade à Igreja Protestante, que lhes permitia a entrada. Outros países ao redor do mundo também possuem histórias interessantes, como o Canadá, Suíça, Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido. Há uma tradição geral de que ao serem desafiados os portadores devem mostrar suas challenge coins, aquele que não estiver com a sua deve pagar as bebidas aos demais.

 

 

 

 

 

 

 


Destaque – Imagem: aloart / Challenge Coin “Buffalo Bill” Quinn, da Collector Weekly / Demais créditos: ver reportagem


Publicação:
Domingo | 14 de janeiro, 2024