Domingo | 5 de março, 2023

“Feirante sempre ganhou bem”, o dito popular é verdadeiro. Assim como também são verdadeiras as duras jornadas de trabalho desses empreendedores e seus colaboradores que também convivem com a alta dos preços.


Acordar de madrugada, carregar caminhão, descarregar caminhão, fazer compras no CEASA, direto com os produtores da zona rural concentrada principalmente ao sul de São Paulo – Parelheiros, Grajaú e Marsilac –, ou de municípios ao redor da cidade, tais como Suzano ou Mogi das Cruzes. Esta é a rotina incansável dos feirantes. Consumir os produtos naturais trazidos por eles todos os dias é sinônimo de vida mais saudável. Mas está difícil não se surpreender com o aumento dos preços a cada semana.

 

Feira livre da Rua Antonio Camardo, no Tatuapé: preços em alta. Foto: aloimage

 

Frutas

As frutas que encontramos nas feiras chegam a São Paulo de vários estados, como os do nordeste, através do transporte rodoviário e os preços estão disparando. Conversamos com Fábio Martins que possui cinco barracas de frutas bem estruturadas. Elas são montadas na Água Rasa, Tatuapé e Cohab 2 que fica em Itaquera. Basicamente, o feirante compra as mercadorias em caixas e as vende por unidades ou quilos. Segundo ele, os preços na sua atividade estão em constante alta há pelo menos dois meses e meio. “Tudo em excesso os preços. Cada semana que passa a mercadoria está aumentando 5, 10 reais por caixa”. Surpreende a afirmação de que os aumentos são semanais. “Meus pais eram feirantes, estou na feira há 35 anos, desde moleque, e eu nunca vi isso na minha vida”.

 

Em 35 anos, experiente feirante diz nunca ter visto aumentos excessivos gerais das frutas como neste ano. Foto: aloimage

 

Inflação

Fabio vende uma grande variedade de frutas e diversos colaboradores trabalham com ele. De laranjas variadas, frutas tradicionais como melancia ou melões, até outras mais sofisticadas como pitais e uvas de vários tipos são encontradas no seu ponto. Ele explica sobre os preços. “É normal quando não é safra a mercadoria ser mais cara. Mas agora o que está acontecendo é que está englobando tudo, não é mais uma ou duas mercadorias fora de safra”, expõe referindo-se ao mix de produtos que comercializa e aos aumentos que vêm ocorrendo.

Descontrole

Uma das frutas mais comuns entre os brasileiros é o mamão e chama atenção a alta de preços que esse produto vem alcançando. No último trimestre o tipo Formosa veio subindo e passou de 8 para 20 reais. Para Fábio os preços das frutas tendem a subir com o novo aumento dos combustíveis. “No começo do ano a gente vendia três unidades por 10 reais e agora três por 20 reais e não tem mercadoria para comprar,” apontou referindo-se ao mamão papaia. “Vai chegar uma hora de o pobre não poder mais comer fruta”.

 

Clima influencia no preço das verduras e hortaliças. Todavia, nesse setor também houve alta significativa. Foto: aloimage

 

Verduras e Hortaliças de onde vêm?

Um estudo feito pela Prefeitura por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, sobre os agricultores da zona rural Sul de São Paulo em 2020, cadastrou 428 unidades de produção agrícola, sendo 171 no distrito de Parelheiros, 169 em Grajaú e 88 em Marsilac. O estudo apontou que metade desses produtores rurais possui apenas o Ensino Fundamental, têm baixa comercialização da produção e possuíam renda mensal abaixo de 1.000 reais. “Tal situação faz com que 41% do total dos produtores exerçam outra atividade fora da propriedade para complemento de renda”, apurou o levantamento. Há feirantes também compram direto de produtos localizados em Suzano ou Mogi das Cruzes, por exemplo.

Clima

Um dos fatores preponderantes e que mais influencia nos preços das verduras e hortaliças comercializadas nas feiras livres é o clima. A chuva e o sol devem ser equilibrados para uma boa produção, mas a natureza é imprevisível. Além disso, “o maior problema é que eles não têm o produto para vender”, disse um dos feirantes com o qual conversamos nesta sexta-feira (3). Ele se referia justamente aos produtores de Suzano e Mogi onde faz suas compras. Ao questionarmos sobre os preços e se ele havia repassado aos valores o recente aumento da gasolina disse que “ainda não”. Em agosto, setembro do ano passado era possível comprar dois pés de alface por 5 reais. Desde o mês de janeiro deste ano, cada um deles custa esse valor.

 

Destaque – Mamão papaia: de 10 reais em janeiro por 20 reais no final do mês de fevereiro. Alta de 100% em apenas 60 dias, permanece em março e perspectiva de feirantes é de aumentos. Foto: aloimage