Muitas, tem sido as manifestações de líderes mundiais quanto a chamada Questão Armênia. O representante do Conselho Nacional Armênio (CNA), Dr. Simão Kerimian, manifestou em 2008, a esperança de que um dia o Brasil também reconhecerá a questão do genocídio armênio, a exemplo da Argentina, Uruguai e mais oito países.


“E eles terão os melhores vizinhos que alguém pode ter”. Estas palavras são do vice-cônsul da Embaixada Brasileira na Armênia em relação aos Turcos, ao encerrar sua mensagem para Alô Tatuapé solicitada por duas moradoras armênias do bairro em 2008, que desejam, assim como toda a comunidade armênia mundial, o reconhecimento e um pedido de desculpas pelo terrível genocídio ocorrido em 1915, durante a 1ª Grande Guerra Mundial e após (até 1923), perpetrado pelo Império Otomano e até hoje negado pela República da Túrquia, fato que chegou a complicar o ingresso desse país na União Europeia (UE).

 

De camisa amarela, o deputado Federal Arnaldo Faria de Sá e Simão Kerimian, membros da comunidade armênia, Mgrdich Codjaian e sua esposa Sossie Haroutonian Codjaian. Foto: aloimage

 

Localizada entre o Mar Cáspio e o Mar Negro, a Armênia sempre esteve sujeita a invasões, como as dos assírios, gregos, romanos, bizantinos, árabes, mongóis, persas, russos e turcos-otomanos. Arqueólogos continuam a descobrir e comprovam que a região é habitada desde a pré-história. De 6.000 a.C. a 1.000 a.C., ferramentas como lanças, machados e outros utensílios de cobre, bronze e ferro eram produzidos e trocados nas terras vizinhas onde esses metais eram escassos. Os armênios estão incluídos entre as civilizações milenares que formaram os países do Cáucaso.

Vítima de um genocídio que ceifou a vida de 1,5 milhão de pessoas, agravado pela deportação de outras centenas de milhares, o povo armênio prospera em diversos países, como o Brasil, através de seus descendentes. A Turquia reluta reconhecer o genocídio e essa decisão influenciou restrições para sua entrada na UE.

 

Paroquianos da Igreja Apostólica Armênia, que fica na Av. Santos Dumont, 55, caminham em direção ao Monumento Armênio. Foto: aloimage

 

Diversos países como Uruguai, Chipre, Argentina, Bulgária, Rússia, Iugoslávia, Grécia, Bélgica, França, Suíça, Itália, Líbano e Suécia, além do Parlamento Europeu, reconhecem o fato. Proeminentes personalidades políticas dos Estados Unidos, Israel e Grã-Bretanha também já se manifestaram. O CNA (Conselho Nacional Armênio) da América do Sul no Brasil, representado por intermédio do Dr. Simão Kerimian, trabalha pela questão em nome da comunidade armênia.

No dia 24 de abril, os armênios da capital paulista relembraram os fatos ocorridos em 1915, com faixas e cartazes, numa manifestação pacífica junto ao monumento existente na Estação Armênia do Metrô, aonde depositaram flores em memória de seus antepassados.

 

Manifestação ocorrida
no dia 24 de abril de 2008, junto ao Monumento Armênio na Estação Armênia do Metrô. Foto: aloimage

 

O Cônsul Geral da República da Armênia em São Paulo, Valéry Mkrtoumian, no Brasil desde o final de 2006 (hoje substituído pela consulesa Hilda Diruy Burmanian), concedeu uma entrevista dias após a manifestação dos armênios na capital paulista em 2008, e falou sobre a Pátria Mãe, lembrando que o Consulado foi instalado na cidade em 1998 e que por determinação do governo da Armênia, ainda neste ano será instalada a Embaixada da Armênia em Brasília, DF, o que comprova o alto nível de relacionamento mútuo existente entre ambos os países.

“Considerando primeiramente os fortes laços que unem as coletividades armênias à pátria de seus antecedentes, seria de esperar que a coletividade armênia do Brasil recebesse com muita alegria, entusiasmo e orgulho a presença de uma missão diplomática do Estado Armênio no Brasil, o que é muito importante, se considerarmos que a presença de um consulado tem inclusive a finalidade de aproximar cada vez mais o intercâmbio nas mais diversas esferas entre o Brasil e a Armênia”.

 

Abril de 1915: armênios escoltados por soldados turcos marchando da cidade de Mamüret-Ul Aziz (Kharberd – Kharpert para os armênios, atual Elazığ) para um campo de prisioneiros. Por Artaxiad.

 

O vice-cônsul brasileiro na Armênia, Hovsep N. Serefian, também se manifestou sobre as gerações de armênios que sobreviveram, descenderam e, hoje, estão por todo o mundo. “O povo armênio foi o primeiro a abraçar o Cristianismo como religião oficial do país e praticar o amor fraternal, convivendo com povos de várias outras religiões. O massacre sofrido pelo povo armênio demonstra a coragem de nossos mártires em continuarem fiéis em sua crença, à generosidade e ao amor. Hoje, aquela barbaridade repetida por Hitler, após a famosa frase: “Quem se lembra do que aconteceu aos armênios?”, não deve se repetir. O direito à liberdade, à crença, à dignidade da pessoa humana deve ser superior a qualquer nação. Todas as nações devem respeitar o ser humano acima de tudo. Nós armênios só esperamos um pedido de desculpas do Governo Turco. Com isso, os turcos terão os melhores vizinhos que alguém pode ter.”

A entrevista com o Cônsul armênio Valéry Mkrtoumian aconteceu próxima a uma data bastante significativa, o Dia das Mães. “Não é por acaso que valores nobres como a língua e a pátria são qualificadas como língua “mãe” e “mãe” pátria. Na realidade armênia, a mãe sempre teve e continua a ter um papel e uma importância muito grande para a educação e na moldura dos valores morais cristãos nas novas gerações. Considerando os trágicos fatos históricos ocorridos no início do século passado principalmente nas regiões orientais do Império turco-otomano, ou mais especificamente na histórica Armênia Ocidental, e aqui me refiro ao hediondo genocídio executado contra o povo armênio, às mães armênias incumbia-se uma enorme tarefa histórica, e essa missão elas cumpriram a termo à custa de enormes sacrifícios, mas com a nobre convicção de que as gerações armênias sobreviventes deveriam manter o espírito da armenidade, para que perpetuasse a pátria armênia e difundir, aos quatro cantos do mundo, o amor pela paz e o desejo de se prosperar e se desenvolver pacificamente, o que viria a tornar-se uma realidade”.

 

Syria – Aleppo, 1919: Jovem armênia morta no deserto de Aleppo. Tradução da legenda abaixo da foto: A visão comum entre os refugiados armênios na Síria. Uma criança armênia morta sob os olhares de ajuda e segurança, no deserto de Aleppo. Foto de Near East Relief.

 

Marchas

Para explicar melhor sobre as longas marchas: Os prisioneiros armênios, homens, mulheres, crianças e idosos eram levados em longas marchas. Neste caso, pelo deserto de Aleppo, outros pelas montanhas. Muitos morriam pelo caminho entre o calor e a neve. As atrocidades cometidas são uma afronta à humanidade.

Notas sobre o genocídio armênio

– Entre 1915 e 1923, 700 mil armênios deixaram seu país e estão espalhados pelo mundo;
– No ano que vem completará 100 anos;
– A igreja armênia pretende canonizar os mártires do genocídio;
– O Líbano pretende lançar um selo para lembrar a data;
– Em um encontro com o presidente armênio, Serzh Sarkisian, o presidente da República Checa, Milos Zeman, referiu-se aos acontecimentos de 1915 como Genocídio, reconhecendo seu centenário em 2015. (Portal Estação Armênia);
– 10 países reconhecem a questão: Argentina, Bélgica, Chile, Chipre, França, Canadá, Alemanha, Grécia, Itália e Lituânia. http://www.armenian-genocide.org/recognition_countries.html


Destaque – Imagem: aloimage


Publicação:
Segunda-feira | 17 de março, 2014
Atualizado | 19 de abril, 2024