Sábado | 18 de fevereiro, 2023

Há quem não dispense uma porção de salaminho; o famoso pão, queijo & vinho sem salame perde um pouco em paladar. A tradicional iguaria está sendo avaliada quanto aos ingredientes que foram sendo agregados pela indústria. É importante destacar que apenas duas amostras excederam os limites toleráveis.


Se existe um aperitivo tradicional brasileiro este é o salaminho que também pode ser servido em sanduíches e cada um degusta à sua maneira. Popular e vendido em vários tipos por marcas famosas e outras nem tanto, a iguaria está em análise. Pesquisadoras do Instituto Adolfo Lutz (IAL) em parceria com cientistas do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP) analisaram 14 marcas comerciais do embutido para rastrear a presença de quatro contaminantes do grupo dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs), que são prejudiciais à saúde humana e animal. “Nós avaliamos 22 amostras de salames comprados em supermercados e lojas de varejo na cidade de São Paulo entre 2019 e 2021”, descreve Simone Alves da Silva, pesquisadora do Núcleo de Contaminantes Orgânicos do IAL e uma das autoras da pesquisa.

Análises

De acordo com a notícia veiculada pela Agência Fapesp, com reportagem de Mônica Tarantino, o resultado mostrou que 6 das 22 amostras (quase um terço do total) continham ao menos um dos quatro HPAs buscados. “Felizmente, na maioria das amostras positivas, as quantidades estavam abaixo dos limites estabelecidos pela legislação europeia, que foi adotada como parâmetro por falta de normas específicas no Brasil para controlar esses compostos em embutidos cárneos. ‘Duas amostras apresentaram contaminação por HPAs acima do limite máximo tolerável no Regulamento da Comissão Europeia’”, relatou a pesquisadora.

Defumação

A publicação demonstra que foram constatados rótulos de dois salames indicando que os produtos foram defumados e as cientistas decidiram analisar o conteúdo em separado. “Encontramos maiores teores de contaminantes na tripa (a pele que recobre o salame) do que na carne, indicando maior presença de HPAs na superfície do produto”, disse a bióloga Geni Rodrigues Sampaio, responsável técnica pelos Laboratórios de Componentes Alimentares e Saúde e de Genômica Nutricional e Inflamação da FSP-USP e coautora do estudo.

Precaução

A reportagem esclareceu que os HPAs são uma classe de compostos que inclui mais de cem substâncias químicas que surgem da queima incompleta de matéria orgânica e dentre outras fontes são encontrados em vários processos industriais. A Comissão Europeia vigia e orienta o rastreamento desde 2008. “Um volume considerável de evidências científicas sobre a ação do benzopireno convenceu a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, na sigla em inglês) a declará-lo carcinogênico,” sinalizou a pesquisa.

Alerta

Os achados da pesquisa, realizada com apoio da FAPESP e publicada na revista Food Analytical Methods, funcionam como um alerta. “Alguns produtos podem estar passando por processos de defumação tradicionais, sem uso de filtros para a fumaça que reduzem a presença dos compostos HPA”, afirma Silva. A reportagem esclarece ainda que procurou a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e o Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do Estado de São Paulo, mas não houve retorno até o fechamento da edição, publicada no dia 13 de fevereiro.


Destaque – Metodologia desenvolvida por pesquisadoras do Instituto Adolfo Lutz e da USP revela que seis amostras do embutido continham resíduos de hidrocarbonetos, mas apenas duas excederam os limites toleráveis. Foto: aloart